Bronquiolite só dá em criança? Em adultos é mais grave? Tire suas dúvidas

A bronquiolite é uma inflamação dos bronquíolos, que são os menores e mais delicados ramos das vias aéreas dos pulmões. Visualize uma árvore respiratória: temos os brônquios (os galhos maiores), os bronquíolos (galhos finos) e, na ponta deles, os alvéolos —onde ocorre a troca de oxigênio.

Apesar de a bronquiolite remeter à infância (e de fato, bebês são as maiores vítimas de um tipo específico da doença), adultos também podem desenvolvê-la, só que por outros motivos e com desfechos diferentes.

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Imagem: Getty Images

Bronquiolite infantil X bronquiolite adulta

Na infância, a bronquiolite costuma ser causada por um microrganismo bastante conhecido: o VSR (vírus sincicial respiratório). É uma infecção viral aguda, que incha os bronquíolos e enche os pulmões de secreção. Ela pode acontecer nos primeiros dois anos de vida, sobretudo nos meses mais frios, e tende a melhorar sozinha; embora, em alguns casos, possa levar a internações.

Já no adulto, a história muda de figura. A chamada bronquiolite obliterante (um dos tipos mais comuns em gente grande) nem sempre tem origem viral. "Obliterante" vem do fato de que os bronquíolos podem sofrer cicatrizes (formação de fibroses), estreitamentos permanentes ou até serem obliterados —ou seja, fechados.

Causas vão além das infecções

Outros fatores que comprometem os bronquíolos de forma crônica e séria incluem:

Doenças autoimunes, como artrite reumatoide ou lúpus;

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Inalação de substâncias tóxicas, como gases industriais, fumaça ou vapores químicos;

Tabagismo crônico, que irrita progressivamente o tecido pulmonar;

Complicações de transplantes, principalmente de pulmão e medula óssea;

Infecções virais graves, como o próprio VSR, influenza ou até coronavírus.

Tem mais. Ao contrário das crianças, os adultos geralmente não enfrentam uma bronquiolite "passageira". A bronquiolite obliterante costuma ser mais persistente, progressiva e, em alguns casos, irreversível.

Sintomas da inflamação em adultos

Muitas vezes, os sinais imitam os de outras doenças respiratórias comuns. Os principais incluem:

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Tosse persistente, geralmente seca (sem catarro);

Falta de ar intensa, que pode surgir primeiro aos esforços e depois até em repouso;

Chiado no peito, semelhante ao de uma crise asmática;

Febre baixa, especialmente se houver infecção associada;

Sensação de cansaço e opressão torácica.

Em alguns casos mais avançados, a pessoa pode apresentar perda de peso, dificuldade para realizar atividades básicas e até baixa saturação, exigindo o uso de oxigênio suplementar.

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Imagem: PeopleImages/Istock

Como diferenciar a bronquiolite de outras doenças?

Os sintomas respiratórios estão presentes em diversas enfermidades e é comum que pacientes (ou até o profissional de saúde) confundam os quadros. Mas algumas pistas ajudam a diferenciar os quadros:

Asma: aparece com tosse seca e chiado no peito, além de falta de ar intensa durante as crises. Não costuma causar febre e está frequentemente ligada a alergias ou histórico familiar. Os sintomas vêm em crises agudas, que podem variar de leves a graves.

DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica): tem como marca registrada a tosse com catarro e a falta de ar que piora aos poucos com o tempo. Não dá febre e está fortemente associada ao tabagismo de longa data. É uma condição crônica e de progressão lenta.

Gripe: costuma causar tosse seca ou com catarro, febre alta e falta de ar leve a moderada. Em geral, surge após contato com alguém gripado ou durante surtos. Na maioria dos casos, melhora em poucos dias.

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Ao contrário da gripe, a bronquiolite não melhora com repouso e analgésicos simples. Se os sintomas respiratórios persistem ou se intensificam, o ideal é procurar um médico.

O clínico geral geralmente faz a avaliação inicial e encaminha para especialistas, como o pneumologista, que cuida de doenças respiratórias. O otorrinolaringologista também pode ajudar no diagnóstico, como em caso de infecções associadas. Quando há causas autoimunes ou alergias, imunologistas e alergologistas podem se envolver no tratamento. Por fim, os geriatras poden acompanhar pacientes idosos.

Examinar o tórax fecha o diagnóstico

Se os sintomas respiratórios não passam e parecem mais sérios do que uma gripe comum ou uma crise alérgica, o médico vai precisar investigar com mais profundidade. E, no caso da bronquiolite em adultos, não basta auscultar o pulmão com o estetoscópio.

A primeira pista é dada pela conversa entre paciente e médico. Perguntas como "você fuma?", "teve contato com gases ou produtos químicos?", "tem alguma doença autoimune?" ou "pegou uma gripe recentemente?" são fundamentais para levantar suspeitas.

Depois, vem o exame físico: o médico ausculta (ouve) os ruídos respiratórios com o estetoscópio, avalia o esforço para respirar e verifica se há sinais de hipóxia (falta de oxigênio no sangue), como lábios azulados ou cansaço extremo.

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Em se tratando dos exames de imagem, o raio-X de tórax pode ser o primeiro recurso, mas nem sempre mostra as alterações da bronquiolite, principalmente em fases iniciais. É aí que entra a tomografia computadorizada de tórax.

Esse exame é muito mais detalhado e permite ver os bronquíolos inflamados, estreitados ou obstruídos, como se fosse uma lupa para as vias aéreas mais finas do pulmão. Em casos mais graves ou persistentes, esse exame é decisivo.

Além disso, o médico pode solicitar:

Exames de sangue, para investigar sinais de infecção e/ou inflamação;

Testes de função pulmonar (espirometria), que avaliam o quanto o pulmão está conseguindo captar e expelir ar;

Exames para doenças autoimunes, se houver suspeita de uma causa imunológica;

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Exame do escarro, quando há secreção, para verificar a presença de vírus, bactérias ou fungos.

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Imagem: iStock

Tratamento depende da causa

Um dos grandes desafios da bronquiolite em adultos é que não existe um único tratamento padrão. A abordagem médica precisa ser adaptada conforme a causa da inflamação nos bronquíolos.

Se a causa for viral, como o VSR (vírus sincicial respiratório), o tratamento é sintomático: inalações com soro, medicamentos que fluidificam o muco e, em alguns casos, exercícios de fisioterapia respiratória para ajudar na expectoração e melhorar a oxigenação, sendo indicada desde os primeiros dias do quadro agudo;

Se for uma doença autoimune, como artrite reumatoide ou lúpus, o foco será controlar a imunidade com corticoides ou imunossupressores, medicamentos que modulam a resposta imunológica do organismo;

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Se o gatilho for exposição a toxinas ou produtos químicos, é preciso afastar o paciente da substância e, quando possível, aplicar antídotos ou medicamentos que minimizem os danos pulmonares;

Se for tabagismo crônico ou DPOC associado, o tratamento envolve o uso de broncodilatadores (como os anticolinérgicos), corticoides inalatórios e suporte para cessar o tabagismo;

Anti-inflamatórios hormonais (corticoides) ajudam a reduzir o inchaço e a inflamação nos bronquíolos. Podem ser administrados por inalação ou via oral/injetável, dependendo do caso;

Broncodilatadores relaxam a musculatura das vias aéreas, facilitando a entrada e saída de ar —muito úteis quando há chiado ou sensação de aperto no peito;

Antibióticos ou antivirais entram em cena quando a causa é bacteriana ou viral, respectivamente. No caso do vírus da gripe, o antiviral é indicado em situações mais graves ou em pacientes com imunidade comprometida.

Tem cura definitiva?

Se a bronquiolite for causada por uma infecção viral aguda, como acontece com o VSR, a inflamação tende a regredir após alguns dias ou semanas, sobretudo com os cuidados adequados. Nesses casos, pode-se falar em cura, sem necessidade de acompanhamento a longo prazo —desde que o paciente não tenha problemas respiratórios prévios.

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Por outro lado, se a bronquiolite estiver associada a doenças pulmonares crônicas, como asma, DPOC ou enfermidades autoimunes, a inflamação nos bronquíolos pode se tornar recorrente ou persistente. Nesse cenário, a bronquiolite deixa de ser um episódio isolado e passa a fazer parte do manejo contínuo da doença de base. Em outras palavras, não tem uma cura definitiva, mas sim um controle.

Mas, mesmo nesses casos, é possível viver bem com a doença. O segredo está no acompanhamento médico regular, no uso correto das medicações e na adoção de hábitos saudáveis, como parar de fumar e manter as vacinas em dia.

Dá para prevenir a bronquiolite?

Sim, em muitos casos, é possível prevenir, mas tudo depende da origem da inflamação. A bronquiolite não é uma doença única e isso influencia bastante nas estratégias de proteção.

Quando falamos da bronquiolite causada por vírus, notadamente o VSR, a prevenção avançou nos últimos anos. Já existe vacina para públicos vulneráveis, como:

Idosos;

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Gestantes (o bebê ganha anticorpos por meio da placenta);

Bebês prematuros ou com doenças pulmonares crônicas (a prevenção inclui o uso de anticorpos monoclonais, como o nirsevimabe, que ajuda a reduzir o risco de formas graves da doença).

Esses imunizantes não impedem totalmente a infecção, mas reduzem o risco de formas graves da doença: aquelas que podem levar à internação.

Além da vacina, outras medidas simples ajudam a proteger os bronquíolos:

Evitar o contato próximo com pessoas gripadas;

Lavar bem as mãos com frequência;

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Usar máscara em locais fechados ou ao cuidar de pessoas com infecção respiratória;

Manter ambientes bem ventilados.

E claro: não fumar e evitar exposição a poluentes e gases tóxicos são atitudes que ajudam não só a prevenir bronquiolite como também DPOC, câncer e uma infinidade de outros problemas respiratórios.

Como fica o pulmão depois?

Em geral, não é comum que adultos fiquem com sequelas respiratórias permanentes após um episódio de bronquiolite — principalmente se for um caso leve ou moderado, tratado de forma apropriada. No entanto, quando as crises são frequentes, graves ou malconduzidas, existe o risco de comprometimento crônico das vias respiratórias.

Pessoas que já convivem com asma, DPOC ou doenças autoimunes têm mais chance de sofrer com inflamações repetidas nos bronquíolos, o que pode levar a um declínio progressivo da função pulmonar ao longo do tempo.

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Portanto, é preciso procurar atendimento médico se os sintomas persistirem por vários dias ou se agravarem.

Fontes: Antonio Bruno Castro Magalhães, pneumologista do Hospital Aliança, em Salvador; Cicero Matsuyama, otorrinolaringologista do Hospital Cema (SP); Natan Chehter, clínico geral, geriatra membro da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e professor da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo).

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