Taise Spolti

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Opinião

Avanço em diagnósticos vai acelerar tratamentos nutricionais e terapêuticos

A alimentação é um dos pilares da saúde —e os hábitos dos brasileiros mudaram muito nas últimas décadas. Entraram no prato mais ultraprocessados, sal, açúcar e gordura saturada. Saíram os alimentos in natura. Resultado: aumentaram os casos de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, obesidade e até câncer. Só a obesidade está ligada a pelo menos 32 tipos de câncer, segundo estudos recentes.

Outro alerta: transtornos alimentares como anorexia e bulimia já atingem cerca de 15 milhões de brasileiros, principalmente jovens expostos a padrões estéticos irreais nas redes sociais.

Além de investir em uma nutrição adequada, detectar essas condições mais cedo pode melhorar a qualidade de vida da população —e ainda reduzir gastos das famílias e do sistema de saúde. Só em 2018, o Brasil gastou R$ 3,45 bilhões com hipertensão, diabetes e obesidade, somando hospitalizações, consultas e medicamentos pelo SUS. Sem contar os custos indiretos, como perda de produtividade e despesas extras das famílias.

Crianças desnutridas adoecem mais. As que têm excesso de peso têm mais chances de desenvolver doenças crônicas na vida adulta. E no caso do câncer, descobrir cedo faz toda a diferença: em tipos como mama e colo do útero, o diagnóstico antecipado aumenta as chances de cura e reduz a necessidade de tratamentos agressivos.

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Imagem: Getty Images

"A medicina diagnóstica deixou de ser apenas uma etapa do cuidado para se consolidar como uma alavanca estratégica na gestão da saúde. Investir em diagnóstico é investir na eficiência assistencial, evitando tratamentos complexos e promovendo qualidade de vida", diz Milva Pagano, diretora-executiva da Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica).

Gustavo Campana, médido da DB Diagnósticos, e Paula Campoy, presidente da Asap (Aliança para a Saúde Populacional) concordam. Para eles, o diagnóstico deixou de ser um componente isolado e técnico do cuidado para se tornar um pilar estratégico na transformação dos modelos de saúde. Quando aplicado de forma inteligente e integrada, permite antecipar riscos, personalizar intervenções e otimizar desfechos clínicos e financeiros.

Diagnósticos do futuro

A boa notícia é que a biologia molecular tem revolucionado o diagnóstico de diversas doenças.

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"A biologia molecular já vem transformando a prática diagnóstica no Brasil, oferecendo rapidez, precisão a possibilidade de personalização. Com ela, conseguimos identificar doenças antes mesmo do surgimento de sintomas, o que muda a lógica da assistência e traz ganhos concretos em qualidade de vida e sustentabilidade do sistema", diz Guilherme Ambara, CEO da Seegene Brazil, fabricante de produtos de diagnósticos moleculares.

Cristovam Scapulatempo, da Dasa Medicina Diagnóstica, e Rafael Jácomo, do Grupo Sabin, citam especificamente a área de genômica, associada à automação e à inteligência artificial, como os três pilares principais pilates dos avanços na biologia molecular. Segundo eles, a associação entre alterações genéticas e morfologia tumoral tem proporcionado diagnósticos cada vez mais precisos, especialmente na oncologia.

Um exemplo é o MammaPrint, teste genômico capaz de identificar pacientes de câncer de mama que podem evitar quimioterapia, aumentando significativamente as taxas de sobrevida.

A notícia preocupante é que apenas 12% dos exames realizados no país utilizam diagnóstico molecular. De acordo com a Abramed, a fragmentação estrutural do setor de saúde é um dos principais entraves para a adoção coordenada de inovações, especialmente no SUS e em clínicas de menor porte. Essa falta de interoperabilidade entre os diversos elos do sistema compromete a jornada do cuidado, atrasando diagnósticos e aumentando custos.

Ações integradas

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Imagem: Getty Images

Melhorar a saúde da população e reduzir os custos com doenças crônicas passa, na minha visão, por uma combinação de estratégias. Entre elas: promover a educação alimentar, incentivando o consumo de alimentos in natura e minimamente processados —como orienta o Guia Alimentar para a População Brasileira —; ampliar o acesso a tecnologias diagnósticas avançadas, especialmente no SUS e em regiões remotas; investir em programas de rastreamento e diagnóstico precoce, com foco nas populações de risco; e integrar os sistemas de saúde, garantindo a interoperabilidade e o compartilhamento seguro de dados —algo especialmente relevante para o setor público.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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