Ana Canosa

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Opinião

Ela tem 42, ele, 29: diferença de idade é culpada pela distância do casal?

Alice e Bruno iniciaram a conversa no consultório dizendo que estavam sem fazer sexo, provavelmente porque andavam brigando demais. Culpavam a diferença de idade.

Alice queria dormir cedo e conversar depois do sexo. Bruno preferia virar a madrugada vendo série e fazer amor pela manhã. Ela se sentia cansada de explicar seus sentimentos e motivações. Ele, inseguro diante de tanta clareza. O sexo, que antes era terreno de descoberta, passou a ser espaço de cobrança. E os corpos, em vez de se celebrarem, passaram a se comparar.

Estavam juntos há três anos. Ela, aos 42, apaixonou-se por aquele olhar curioso de um rapaz de 29. Ele se encantou pela segurança e elegância de uma mulher que parecia ter vivido mil histórias. No começo, riam das diferenças. Mas, com o tempo, as piadas começaram a doer.

Alice caiu na esparrela de chamar Bruno de "moleque" ou "adolescente" em cada discussão mais acalorada, e ele, para revidar, ironizava dizendo que estava casado com uma "professora", que para cada conversa queria dar "uma aula".

Diferença de idade é tema recorrente nas conversas sobre sexo e amor — seja nas rodas de amigos ou nas sessões de terapia. E, ainda hoje, há quem tente aplicar uma fórmula matemática ao desejo. Uma delas, que circula como um antigo provérbio (sem origem comprovada), diz que "a mulher ideal deve ter a metade da idade do homem, mais sete anos". Uma conta que carrega, além de um machismo estrutural, uma lógica bem ultrapassada sobre as relações humanas.

Durante séculos, homens mais velhos se relacionavam com mulheres mais jovens sob a justificativa da procriação: elas eram férteis, eles, provedores. Mas hoje — quando fazemos sexo por desejo, por afeto, por prazer, por conexão — a idade já não deveria ser uma régua tão importante.

Ainda assim, no Brasil, transar com alguém mais jovem dá um certo status... para os homens. Quando o movimento é o contrário — uma mulher mais velha se envolvendo com um parceiro mais novo — o olhar social muda.

Vêm os rótulos: "tá querendo se sentir jovem", "pegou um garotão", "isso não vai durar". A diferença etária, nesse caso, é lida quase como uma ousadia, uma quebra de regra que incomoda mais do que encanta. Mesmo quando a mulher é madura, segura e tem todo o direito de se beneficiar da energia vibrante de um parceiro mais novo.

Mas a ciência mostra que não é só o julgamento externo que desafia esses relacionamentos — há questões práticas também.

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Um estudo da Emory University, nos EUA, analisando cerca de 3.000 casais, revelou que quanto maior a diferença de idade, maiores as chances de separação. Casais com 5 anos de diferença têm 18% mais risco de rompimento. Com 10 anos, esse número salta para 39%. E, com 20 anos ou mais, o risco chega a 95%. É muita matemática para pouco romance.

Claro que idade, por si só, não define o sucesso de uma relação. Mas quando a diferença representa também um abismo geracional — com valores, referências, linguagens e expectativas muito distintas — os atritos aparecem. Uma pessoa busca estabilidade, a outra quer liberdade. Uma fala de Chico Buarque, a outra de memes. O conflito não é apenas de tempo cronológico, mas de tempo emocional.

Os desafios encontrados por Alice e Bruno não são só derivados da diferença de idade, mas também das divergências em traços de personalidade, expressão de gênero e preferências pessoais. Eles têm um espaço de 13 anos entre si, o que não é tanto, especialmente porque ambos se encontram na fase da produtividade e da expansão — embora Alice já traga a preocupação com a perimenopausa e se sinta mais estabilizada na carreira do que ele.

A questão era abandonarem a ideia sobre terem idades distintas, o que passou a ser a grande justificativa do casal.

Sempre quando há respeito, escuta e desejo verdadeiro, há possibilidades. Mas isso exige abandonar o ideal da fórmula perfeita e investir no cálculo mais complexo — e mais bonito — que envolve prazer mútuo, tempo de cada um e disposição para crescer junto.

Porque quando o assunto é amor e sexo, subtrair nunca é mais interessante do que somar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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