Julio Gomes

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Massacre do PSG sobre a Inter consagra apostas em juventude e jogo coletivo

O futebol é mesmo incrível. É o único esporte do mundo em que você pode juntar 2 mais 2 mais 2 e a conta sair -6, em vez de 6. Se não precisássemos de mais provas, agora temos o PSG campeão da Europa pela primeira vez. Comprado pelo dinheiro da família real do Qatar em 2011, o Paris demorou 14 anos para chegar ao objetivo sonhado. Chegou em grande estilo, com 5 a 0 e chocolate para cima de uma Inter de Milão que não esteve à altura da ocasião. Foi a maior goleada da história das finais de Copa dos Campeões e Champions.

No caminho, gastou dinheiro de todas as maneiras e fez as duas maiores compras da história do futebol mundial. Ganhou justamente quando entendeu que esse não era o caminho do sucesso - além, claro, de a torneirinha de ouro do Qatar ter dado uma leve fechada, já que o outro objetivo, o da limpeza da "marca" do país através do esporte, já estava cumprido.

Já vimos muitos esquadrões na história do futebol. Todos eles nasceram naturalmente. Sim, pode ter contratação, mas o caminho normal é o da criação de um time forte de verdade a partir de jovens ou de quem já está em casa e muito boa gestão técnica para encontrar os reforços que façam sentido. Os maiores fracassos da história do futebol se deram quando as contratações de estrelas e celebridades antecederam algo mais sólido. São muitos e muitos exemplos, mas, só para citar alguns famosos, um de fora e um daqui, podemos lembrar do Real Madrid dos galácticos e do Flamengo do centenário, além, claro, do PSG de Neymar, Mbappé e Messi.

Não é que esse time atual, que passou por cima da Inter na final de Munique, seja de migalhas, refugos e desconhecidos. Nada disso.

Kvaratskhelia, autor do quarto gol, chegou do Napoli em janeiro por 70 milhões de euros. No início da atual temporada vieram João Neves, do Benfica, por 60 milhões, Doué, do Renners, por 50, e Pacho, do Frankfurt, por 40 - o zagueiro equatoriano foi quem começou a jogada do segundo gol na final. Na temporada passada, foram gastas fortunas em gente como Kolo Muani, Gonçalo Ramos, Barcola e, claro Dembélé. Na retrasada, chegaram Vitinha, Nuno Mendes, Fabián Ruiz - todos custaram algumas dezenas de milhões de euros.

A diferença é a lógica das contratações e a busca de jogadores ainda não consagrados, que tinham fome e precisavam de espaço para isso. Quando Neymar e Mbappé estavam no time, a culpa de não ganhar (para muitos) era de "perebas" como Vitinha e Fabián. Pois os perebas foram titulares hoje na final. Jogaram muito na Champions toda. E as estrelinhas estão curtindo férias ou participando de eventos por aí. Duvido até que tenham perdido tempo vendo o jogo - se bobear, estavam torcendo contra.

Nos últimos anos, as contratações foram feitas pensando em jogadores jovens, coletivos e, de preferência, locais. Notaram que era necessário criar conexão com a torcida, que vivia em pé de guerra com o clube. Conexão com o futuro. Isso se intensificou a partir do momento em que ficou claro que o vestiário passaria das mãos de Neymar e Mbappé para as mãos de Luís Enrique.

Quando você confia em estrelas, vitórias podem vir, claro que podem. Até títulos - e os campeonatos franceses vieram. Mas você raramente vai criar um ambiente em que jogadores dão o máximo. No futebol, a transferência de responsabilidade é quase uma máxima. Ganha mais que eu? Tem todos os holofotes? Vai em festinha na casa do presidente? Então resolva aí, camarada.

Sob a gestão de Luís Enrique e com as mensagens que a diretoria mandou, principalmente nos embates com Mbappé, ficou claro para os jogadores que agora está seria uma empreitada coletiva, não de reizinhos no comando.

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A fase de liga da Champions foi complicada, e o PSG chegou em janeiro com a corda no pescoço. Na ocasião, o projeto de estrelinha restante, Dembélé, estava esquentando o banco. Foi dele o gol que iniciou a virada para cima do Manchester City, em um jogo que poderia ter significado a eliminação. Mostrando a correta atitude, voltou a ser titular e fez um 2025 incrível. A partir da virada sobre o City, começou a reação, veio a classificação para o mata-mata e as eliminatórias épicas contra Liverpool, Aston Villa e Arsenal, três times de Premier League.

No fim, a história da temporada do PSG na Europa é uma história de intensidade e, por que não, humildade. Ao contrário dos outros anos, não constava na lista de favoritos. Ao contrário dos outros anos, agora sim estava jogando um futebol compatível com o jogo de hoje em dia - jogo de entrega, comprometimento tático de todos e, claro, qualidade em todos os setores.

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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