Opinião

Não tenho vontade de viver para sempre, quero mesmo é viver bem. E você?

Eu não quero viver o tanto que tão me prometendo, mas tenho pesquisado sobre longevidade, que é uma das áreas onde a ciência mais avança. Com o aumento da expectativa de vida global, a longevidade vem ganhando interesse e, não à toa, o mercado em torno dela deve valer 44 bilhões de dólares até 2030.

A gente sabe que hábitos saudáveis ajudam muito no bom envelhecimento. Mas acreditava-se que a composição genética era o fator mais decisivo para isso. Um livro novo sobre o assunto diz o contrário. Em Super idosos, uma abordagem baseada em evidências para a longevidade, em tradução livre, o pesquisador Eric Topol crava: os genes não são o fator mais importante para vivermos mais.

Fatores genéticos determinam apenas 20% da forma como vamos envelhecer. Nossos hábitos são responsáveis por 80% dessa definição. Outros pontos relevantes: além da tão conhecida dobradinha alimentação saudável (fuja de ultraprocessados) + exercícios físicos (cada minuto de atividade física equivale a cinco de vida saudável, faça sua conta), o que também tem impacto nesses 80% são boas noites de sono profundo, uma vida social ativa e contato com a natureza. Sim, contato com a natureza. Não é papo de hippie, tá? É ciência!

O ponto de Topol vai ao encontro do de outro expert em longevidade, Peter Attia, autor de Outlive: A arte e a ciência de viver mais e melhor (2023). Ele defende o que chama de "Medicina 3.0": a prevenção, a partir do monitoramento personalizado de nossa nutrição, sono, exercício e saúde mental durante toda a vida.

Segundo o canadense, não dá para focar em saúde física e ignorar a emocional. Também é preciso pensar e planejar envelhecer bem antes de chegarmos lá. Para ele, além de todos os pontos que conhecemos, é preciso entender, agora, o que gostaríamos de ser capazes de fazer na velhice, no detalhe. Sentar no chão para brincar com os netos? Dançar sem restrições? Dirigir um carro de Fórmula 1? E, então, se preparar ativamente para cada uma dessas atividades.

Mas preparar o futuro não tem sido uma prática comum no Brasil, onde estamos envelhecendo mal e com desigualdade. Até 2050, cerca de 68 milhões de brasileiros terão mais de 60 anos. Segundo o médico gerontólogo e presidente do Centro Internacional de Longevidade do Brasil (ILC) e ex-diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Alexandre Kalache, há a urgência de pensarmos a saúde de forma integrada, combinando medicina com sociologia, políticas públicas e participação social.

Para Kalache, um fator que dificulta o investimento em viver bem nessa fase é o fato de as pessoas não se reconhecerem como velhas. Como disse um dia o escritor Otto Lara Rezende, "há, em mim, um velho que não sou eu".

Com tantos estudos nessa área, nascem também novos termos para tentar definir novos períodos da vida. Gerontolescência, já ouviu falar? Meu pai chamava de envelhecência. É essa fase que começa ali por volta dos 55 anos e dura até pelo menos os 85. Só depois disso somos considerados velhos de fato. É neste período que diminuem as obrigações com o trabalho e a família e começa uma vontade de aproveitar a vida, como na adolescência. A diferença é que a adolescência dura cinco ou seis anos. A gerontolescência, pelo menos até agora, 30.

Não tenho vontade de viver para sempre, como disse ali em cima. Quero mesmo é viver bem. Qual sua vontade?

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